Redes privadas 5G otimizam automação em setores como indústria, agronegócio e cidades inteligentes
No caminho das inovações oferecidas pela tecnologia da quinta geração de redes móveis, organizações passaram a aplicar o modelo de conectividade do 5G dentro das redes corporativas, em ambientes dedicados, criando uma tendência de redes privadas que começa a ser explorado no Brasil.
Vanderlei Rigatieri, CEO da WDC Networks
A implantação da tecnologia 5G no Brasil, iniciada há pouco mais de um ano, foi um passo importante para a consolidação da transformação digital, abrindo espaço para novas tecnologias capazes de suportar sistemas complexos de automação que envolvem equipamentos conectados, IA – inteligência artificial e machine learning – aprendizado de máquina, entre outros recursos que dependem de quantidades de dados críticos cada vez maiores. No caminho dessas inovações, organizações passaram a aplicar o modelo de conectividade do 5G dentro das redes corporativas, em ambientes dedicados, criando uma tendência de redes 5G privadas que começa a ser explorado no Brasil.
Para estimular a disseminação do conceito, a Anatel (entregou no início de setembro último o primeiro “Troféu de Conectividade em Redes Privativas”, realizado em conjunto com a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, para identificar e premiar projetos bem-sucedidos na área “para que o uso do 5G na indústria se acelere o mais rápido possível”. Ou seja, o setor econômico tem pressa para usar esta inovação tecnológica e quer que as empresas de telecomunicações e provedores entrem com mais força no jogo.
As redes privativas ou corporativas 5G atuam na faixa de 3.700 a 3.800 MHz e são desenhadas para a implementação de soluções específicas em um serviço limitado privado, que permita aplicações sem fio ponto-multiponto e ponto-área diversificada em grandes espaços. Trata-se de uma rede muito mais focada no alto tráfego de dados provenientes do upload de dispositivos para um computador ou painel de controle, com o mínimo possível de latência. Esta é uma diferença essencial da rede privada para uma rede 5G pública, usada pelo “cliente comum” cujo foco é o download de dados (uso padrão de internet, redes sociais, streaming etc.).
Sua aplicação pode ser aproveitada no setor industrial (é o cerne da indústria 4.0), utilities, agronegócio, óleo & gás, portos e aeroportos, smart cities e em tantas outras aplicações privadas com requisitos específicos e diferentes daqueles ofertados pela rede de telecomunicações comercial.
Indústria 4.0
Na prática, uma indústria é composta por inúmeros motores que fazem funcionar esteiras, prensas, empilhadeiras etc. A manutenção nesses motores é feita, em geral, quando o equipamento quebra, prejudicando a linha de produção. Com uma rede 5G privada, é possível instalar sensores que monitorem o funcionamento de cada equipamento em determinada função crítica, enviem dados a um sistema central para acompanhamento constante para que o gestor realize uma manutenção preditiva e intervenha antes da quebra, programando o serviço de manutenção para uma janela de tempo que não atrapalhe os processos, como de madrugada, por exemplo. Tal ação pode ser replicada em outros motores de uso similar, fazendo um único movimento de manutenção. Com isso, é possível evitar paradas imprevistas na linha de produção e aumentar a produtividade da fábrica.
Uma tendência que vem crescendo no Brasil, para contornar gargalos financeiros e de conhecimento técnico na instalação de uma rede 5G privada, é o uso compartilhado das redes fechadas, unindo fábricas de pequeno porte em um mesmo campus ou formando um distrito industrial. Desta forma, o provedor constrói uma rede de infraestrutura única, individualizando as necessidades de cada empresa, o que reduz o investimento na adoção da conexão sem fio privada.
Com isso, os ISPs – provedores de serviços de Internet que já têm uma infraestrutura estabelecida na região podem agregar mais esta oportunidade de negócios à sua cartela de serviços, expandindo para clientes corporativos. Levantamento da IDC mostrou que os segmentos de manufatura discreta, manufatura por processos e transportes são responsáveis por um terço do valor gasto em IoT em âmbito global, valor que pode alcançar US$ 1,1 trilhão em 2023. Já a Accenture estima que gastos com IoT na área industrial podem adicionar US$14,2 trilhões na economia global até 2030.
Drones e o agronegócio
Outra área com grande possibilidade de crescimento no Brasil é no agronegócio, com a modernização das atividades rurais para atender demandas de sustentabilidade e competitividade. Como exemplo, já são utilizados sensores para captar dados de colheitadeiras e outras máquinas no campo, enquanto drones começam a ser utilizados para aplicações diversas, como monitoramento de perímetro e criações.
O uso de drones, aliás, é uma vertente que já está amadurecida fora do Brasil para uso em ações de segurança diversas, como controle de multidão, busca por desaparecidos e combate a incêndios, como ocorre em Madrid desde 2019. A evolução que a IoT Internet das coisas apoiada por uma rede privada 5G permite é que cada aparelho pode deixar de ser pilotado individualmente, sendo controlado de forma remota e coletiva – um computador controla vários drones simultaneamente que repassam informações em tempo real.
O campo tem muito a ganhar com este modelo de monitoramento e o ISP tem a grande vantagem de estar perto do cliente para oferecer o serviço, ou os serviços, já que a rede privada em uma fazenda precisa estar conectada ao resto do mundo para dar destino aos dados colhidos, e o ISP é quem faz essa conexão por sua rede de fibra óptica.
O modelo de outorga para o sinal de 5G criado pela Anatel permite que qualquer um tenha acesso à frequência determinada, o que abre um grande mercado para os pequenos e médios provedores de internet. Desta forma, uma pequena fazenda, frigorífico, metalúrgica ou mesmo um distrito industrial de uma cidade podem expandir o serviço contratado da simples conexão à Internet para a implantação de uma rede 5G privada.