Redes privativas
Simone Rodrigues, Editora da Infra News Telecom
As redes privativas 5G devem ganhar força nos próximos em todo o mundo, e no Brasil não será diferente. Basicamente, esse tipo de arquitetura vai viabilizar conectividade de alta capacidade, latências ultrabaixas e precisão para diversos de setores, como indústrias, hospitais e agronegócio, permitindo a otimização de processos produtivos e operacionais.
Um estudo da Juniper Research, especialista em tecnologias de comunicação emergentes, indica que os gastos mundiais das empresas em redes privadas chegarão a US$ 10 bilhões até 2028; passando de US$ 1 bilhão em 2023. Os investimentos serão realizados principalmente por companhias de manufatura (35%), energia (20%) e serviços públicos (16%). A necessidade de redes privadas que possam suportar altas densidades de dispositivos e operar em grandes áreas geográficas é um fator importante. As redes privadas aproveitam as tecnologias celulares para fornecer uma infraestrutura fechada que pode ser totalmente gerenciada pelas empresas.
Já há exemplos desta movimentação no Brasil. Um consórcio de 14 empresas vai ativar uma rede 5G privada baseada em OpenRAN em uma escola pública de Sorocaba, interior de São Paulo. Nos próximos meses, serão oferecidas infraestruturas de conectividade sem fio de alto desempenho e com baixo consumo de energia como uma abordagem modernizada de educação dentro das salas de aula. Adicionalmente, a infraestrutura irá promover atividades de letramento digital aos professores em relação as tecnologias digitais emergentes. O consórcio é formado pelas empresas: Fujitsu; Ciena; Dell; FIT; IBM; Intel; Mavenir; Okemo; Ookla; Palo Alto Networks; Red Hat; SIAE Microelettronica; UP2Tech; e VIAVI Solutions.
A Nokia também anunciou que vai implantar uma rede privada 5G na nova planta da Jacto, multinacional brasileira de máquinas, na cidade de Pompéia, no estado de São Paulo. Com 96 mil metros quadrados, a planta vai abrigar um sistema de pintura automatizado, com tecnologia de ponta, manuseio autônomo de veículos e um sistema de armazenamento automatizado. O local contará, ainda, com um centro avançado de treinamento. O espectro utilizado será a faixa de 700 MHz para 4.9G/LTE e, a de 3,7 GHz, para 5G. A rede conectará toda a extensão da fábrica, com alta capacidade e latência ultrabaixa, concretizando o conceito de fábrica inteligente 5G.
Outra empresa que está empenhada em ser referência no mercado de infraestrutura para redes privadas 5G no Brasil e na América Latina é a Baicells, fornecedora global soluções de acesso 4G LTE e 5G. A companhia conta com uma linha de small cells para aplicações indoor de baixo consumo de energia e plug-and-play. A solução também opera no modo 4G LTE e 5G e atende 48 usuários simultâneos com cobertura de 1000 metros quadrados. Para um maior número de usuários, a empresa desenvolveu uma plataforma distribuída, com uma pequena central (BDU) onde são conectadas as small cells, criando microcélulas nos locais que serão cobertos. O principal foco são áreas de até 50 mil metros quadrados, onde a Baicells tem melhor custo-benefício, incluindo hotéis, shoppings, hospitais e centros de convenções.
A ABID – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e a Anatel também estão promovendo as redes privadas no país. Recentemente, a aplicabilidade e a viabilidade da tecnologia 5G no chão de fábrica foram validadas na segunda fase de testes do “Projeto Open Lab 5G WEG-V2COM”, iniciativa operada em ambiente real por meio de cooperação técnica entre a ABDI e empresa WEG-V2COM. Além de incentivar a massificação do uso de redes de quinta geração em operações do setor produtivo brasileiro, os resultados positivos do 5G Release 16, realizado com a supervisão da Anatel e colaboração da Claro S.A., subsidiarão decisões da agência reguladora relativas à tecnologia.
O “Open Lab 5G WEG-V2COM Release 16” complementa a primeira fase do projeto (Release 15), iniciada em 2020 para avaliar o desempenho da rede de quinta geração em aplicações voltadas para chão de fábrica industrial. Diferentemente da primeira, a etapa recém-concluída deu enfoque especial a testes de conectividade de dispositivos IoT – Internet das coisas à rede 5G. Efetuados com requisitos de alta velocidade, elevada largura de banda, baixa latência, estabilidade e confiabilidade em aplicações críticas, como as que exigem resposta em tempo real, os testes foram novamente realizados em ambiente real de produção, isto é, na fábrica da WEG Drives & Controls, em Jaraguá do Sul, SC.
Um artigo publicado nesta edição mostra como esse modelo de infraestrutura pode ser explorado em alguns setores. O autor explica que esse tipo de infraestrutura “é desenhado para a implementação de soluções específicas em um serviço limitado privado, que permita aplicações sem fio ponto-multiponto e ponto-área diversificada em grandes espaços. Trata-se de uma rede muito mais focada no alto tráfego de dados provenientes do upload de dispositivos para um computador ou painel de controle, com o mínimo possível de latência. Esta é uma diferença essencial da rede privada para uma rede 5G pública, usada pelo “cliente comum” cujo foco é o download de dados (uso padrão de internet, redes sociais, streaming etc.).”
Outros temas desta edição são IA na previsão e mitigação de eventos climáticos, DevOps e IA, sistemas de comunicação ópticos, tecnologias para apoiar o aumento exponencial dos dados, IA no atendimento a clientes e carreira.
Simone Rodrigues é jornalista, com pós graduação em comunicação jornalística, além de especialização em mídias sociais. Tem 20 anos de vivência no mercado de infraestrutura e redes de telecomunicações. É fundadora da Infra News Telecom.