Revolução digital versus capital humano na educação
Luiz Alexandre Castanha, diretor geral da Telefônica Educação Digital – Brasil
Até 2030, o cenário do ensino terá mudado no mundo inteiro. A tecnologia, que já é primordial para a transmissão de conhecimento em países como a China e EUA, com recursos como inteligência artificial e realidade virtual, certamente, abrirá uma nova percepção para olharmos a educação.
O modelo de ensino nas universidades, que preparam o indivíduo para o mercado de trabalho, será muito diferente. Essa não é uma projeção sem embasamento. Faz parte de um estudo feito pela Stanford, uma das maiores faculdades da Califórnia (EUA), sobre o ensino superior no futuro.
Uma das perspectivas mais latentes apontadas no relatório da HolonIQ, empresa de marketing de inteligência sobre educação global, em parceria com a Stanford, está na conceituação do tipo de formação na fase adulta: se hoje nos preocupamos com uma graduação, com o tempo médio de quatro anos, em 2030, teremos a tendência de “aprendizagem de vida inteira” estabelecida.
O cenário é um desafio e tanto para educadores, mas também para os alunos. Isso porque a revolução digital e as necessidades dos sujeitos, que já formam sociedades globais automatizadas, exigirão novas frentes de conhecimento. Máquinas não operam sozinhas, e para isso, o capital humano formado contará muito.
Sabemos ainda que funções “mais sensíveis”, ou seja, que dependem de contato humano, como gestão de pessoas, também serão muito cotadas pelos próximos anos.
Como se preparar para tudo isso? Penso que a geração, que hoje está no ensino fundamental, é nativa digital e desenvolve novas habilidades de relacionamento, terá todas as ferramentas fundamentais para atingir esse processo.
A pesquisa de Stanford é muito contundente ao constatar quatro diferenças entre o aprendizado para a vida inteira e o formato que se aplica atualmente em seus cursos.
1 – Em vez de quatro anos sequenciais de conteúdo, em 2030, os estudantes terão contato com o conteúdo por toda a vida – e, nesse sentido, a comunicação digital, que afunila e seleciona material para aprendizagem, é uma poderosa aliada.
2 – O tempo do ensino hoje, dividido igualmente, será mais adaptável: o estudante conseguirá calibrar e personalizar seu processo – o que garante mais absorção e identificação com a matéria proposta.
3 – O desenvolvimento de talentos se torna o pilar fundamental da formação. Hoje, as instituições superiores valorizam a noção que o discente tem em uma disciplina como critério para ser aprovado ou não. A capacidade conquistada nesse novo modelo, entretanto, é que definirá a aptidão de cada aluno.
4 – Por fim, a troca de um conceito muito interessante: em vez de se declararem detentores do conhecimento, os estudantes se colocarão no mundo com missões que aliam sua disciplina com propósitos coletivos e de transmissão daquilo que aprenderam.
Isso significa que, de maneira inegável, estamos prestes a viver profundas transformações e que se relacionam diretamente com um jeito mais sustentável de estabelecermos relações professor-aluno. A figura do tutor fará mais sentido e estudar não se restringirá a uma determinada fase da vida.
Impacto no mercado de trabalho
Por fim, mudanças no ensino refletem em mudanças no trabalho. Já sabemos que, com a robotização, até pilotos de aviões e anestesistas podem ser ocupações que não existirão mais. Espera-se que, em 2030, 20 milhões de robôs estejam em vagas nas indústrias, segundo estudo elaborado pela consultoria Oxford Economics.
Pessoas que estão trabalhando agora, especialmente os millennials, que já têm vocação para atuar com propósito, precisam rever seu entendimento sobre isso.
Uma postura que já podemos adotar de antemão é ir atrás de conteúdo mais humanizado, sabendo afunilar bem o que é oferecido em cursos e experiências digitais. Assim, o salto dessa nova lógica de ensino e aprendizado será menos impactante para os trabalhadores de agora. A tecnologia nos impele a descobrir novas formas de aprender e trabalhar e esta é a hora de acompanharmos essa evolução.
Luiz Castanha é diretor geral da Telefônica Educação Digital no Brasil, administrador de empresas pelo Mackenzie, pós-graduado em marketing pela ESPM, além de especializações em gestão do conhecimento FGV e storytelling aplicado à educação nos EUA. Nos últimos quinze anos, conceituou e liderou diversos projetos de educação corporativa e diversos mercados como o automotivo, financeiro, indústria entre outros. Atualmente, lidera uma operação que desenvolve mais de 60 mil horas de conteúdo ano, para mais de 100 mil profissionais em diversos segmentos. Palestrante da ATD Internacional 2016 e do Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento 2016 em tecnologias disruptivas para capacitação, além de diversas palestras e apresentações realizadas em parceria com a Câmara de Comércio Brasil-Espanha, Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento – ABTD, e Telefônica Open Future 2015.