SDN/NFV: A transição para o mundo virtual
Nos próximos cinco anos 60% dos data centers hyperscale do mundo funcionarão com soluções SDN- Software Defined Network e NFV – Network Functions Virtualization. Isso porque o volume de tráfego de dados cresce exponencialmente, pressionando para que haja uma nova arquitetura que facilite a criação e a evolução de novos serviços.
Simone Rodrigues, Jornalista da Infra News Telecom
Com a previsão de que nos próximos cinco anos cerca de 60% dos data centers hyperscale do mundo estejam funcionando com soluções SDN- Software Defined Network e NFV – Network Functions Virtualization, o momento da transição do digital para o virtual se aproxima a passos largos. Isso porque o volume de tráfego de dados cresce exponencialmente, pressionando para que haja uma nova arquitetura que facilite a criação e a evolução de novos serviços. A redução de custos e a possibilidade de oferecer serviços com agilidade são os fatores que mais chamam a atenção para as tecnologias SDN/NFV. As empresas precisam criar novos serviços agora (não mais tarde) para gerar novas receitas e se manterem competitivas.
A primeira quebra de paradigma foi a virtualização dos servidores, com a proposta de utilizar melhor o hardware, com 100% de sua capacidade. Desde então, a infraestrutura da rede começou a mudar. E, agora, o mundo vive um novo momento de salto tecnológico, com a expectativa de que daqui a dois anos ao menos 40% do tráfego entre os data centers seja suportado por plataformas SDN/NFV. A virtualização de funções da rede é o primeiro passo para construir uma rede ágil e que realmente aproveite o SDN. Embora as duas tecnologias não dependam uma da outra, já que é possível implantar uma SDN sem NFV e vice-versa, quando usadas em conjunto elas se complementam e proporcionam uma solução altamente flexível.
Jonas Santiago de Oliveira, diretor de vendas e arquitetura de OSS para a América Latina da Amdocs, afirma que as redes abertas auxiliam as operadoras na introdução de novos serviços, de forma mais acelerada. E elas são os principais motivadores para intensificar a implementação de SDN/NFV.
Uma das missões a Amdocs é desenvolver soluções de suporte para as operações de negócios e também na integração com SDN e NFV. A estratégia da empresa para cumprir com a missão de agilizar a introdução de novos serviços é composta por três pontos: o primeiro deles é a formação de um ecossistema de fabricantes de diversas modalidades, de hardware e de software, sistemas de gerência de cloud e fornecedores de SDN/NFV. “É preciso ter soluções prontas para diferentes segmentos, incluindo residencial, corporativo e gestão da rede móvel. A eficiência do gerenciamento dos serviços do cliente é outro ponto. Dentro desse conceito, é necessário sair do padrão tradicional, onde um novo serviço demora de seis até 12 meses para ser implementado. Esse novo modelo, que permite a ativação de serviços em minutos ou segundos, só é possível com orquestração, suporte e operação”.
A Amdocs disponibiliza, em conjunto com a plataforma ONAP – Open Network Automation Platform, o SDC – Service Design and Create, uma solução aberta que permite ao cliente projetar novos serviços e estabelecer métricas de maneira ágil e de menor custo, facilitando o desenvolvimento, testes e implementação.
Uma revolução na indústria
Márcio Zara, diretor de vendas SDN/NFV da NetCracker, é mais um a afirmar que a virtualização é um caminho sem volta. “Há uma nova forma de vender e comprar serviços e isso não é apenas para os novos players. No final das contas, todas as empresas estão se transformando. O 5G vai revolucionar a indústria. Com o aumento da quantidade de dispositivos e volume de dados, além da realidade aumentada, inteligência artificial, etc., será impossível fazer a gestão de modo convencional. Sem dúvida, a virtualização é um meio para o fornecimento de novos serviços”. Para ele, as empresas precisam pensar num plano de longo prazo, mas preparando a rede, as pessoas e os processos agora. “Aí a virtualização é fundamental”.
Na análise de Fábio Hashimoto, diretor e tecnologia da Logicalis, os projetos de SDN/NFV podem ser iniciados de forma gradual, configurando o atendimento para as necessidades de cada serviço e cliente. “A partir de um primeiro serviço, pode-se avaliar e aprimorar, agregando outros serviços ao mesmo tempo até que se crie uma plataforma sólida”, explica o executivo, acrescentando que para começar esse processo a capacitação e especialização são fundamentais.
Na avaliação de Patricia Vello, county manager da Ciena Brasil, o SDN, em conjunto com as novas tecnologias, como inteligência artificial, já está afetando o mercado de telecomunicações. Esse processo, irreversível, passa pelo lançamento de novos serviços, que esbarra no lento desenvolvimento dos modelos tradicionais. “As operadoras já consideram fazer os seus próprios desenvolvimentos para terem agilidade e eficiência na operação”.
Para ela, uma das dificuldades da expansão da implantação de SDN é a falta de mão de obra especializada. “As operadoras precisam de equipes que entendam de IP e SDN. Aqui no Brasil há uma certa dificuldade para encontrar esse tipo de profissional. Então, muitas empresas querem ver a tecnologia funcionando em operadoras internacionais para se sentirem mais confiantes”.
Diego Valeriano, gerente de contas da ZTE Brasil, concorda com Patricia. “Estamos em um momento de transição, onde encontramos algumas barreiras, como a falta de mão de obra especializada ou mesmo a necessidade de um investimento inicial e ainda a difusão dos conceitos e tecnologias”. Para ele, a sinergia entre o mundo IP e óptico é fundamental para a transição para o SDN. “O que antes era feito com interfaces físicas, como roteadores, agora é virtual. O SDN permite enxergar e usar todas as camadas da rede, de acordo com a demanda e a disponibilidade”.
Segundo o executivo, o SDN traz uma situação mais confortável para as operadoras, pois um único orquestrador concentra, de forma integrada, todas as informações do backbone IP e plataformas ópticas. “Para fazer o provisionamento da rede, o sistema de orquestração, conectado com os aplicativos, analisa, de forma automática e conforme o tempo real do tráfego, qual é o melhor recurso e caminho a ser seguido”.
Hoje, as empresas já estão lançando muitas soluções, como SD-WAN e CPE virtual, para proporcionar ao cliente um serviço de valor agregado. Os profissionais também estão se preparando para a chegada do ator principal, que é o orquestrador de serviços. Essa convivência dos mundos físico, tradicional e legado com o mundo virtual e digital só acontece por meio do orquestrador, que serve para manter a convivência não só do físico e virtual, mas também quando se trata do 5G.
O papel da automação
Um dos grandes benefícios das tecnologias SDN/NFV é lançar serviços de forma mais dinâmica e flexível, mas isso só é possível com a automação. De nada adianta ter um serviço baseado numa plataforma virtualizada se todo o processo for manual, com atualizações de inventário manual ou cobrança realizada nos mesmos padrões anteriores. Assim, só é possível extrair o real valor da virtualização com a automação da operação e modelos de cobranças diferenciados e alinhados às necessidade de cada cliente.
Edson Stein, senior account manager da Red Hat, acrescenta que o mercado vai exigir cada vez mais uma sinergia entre os mundos de TI. Segundo ele, há alguns anos, as empresas vêm se posicionando para que os data centers sejam focados em aplicações baseadas em software, usando tecnologias open source. Para tanto, é preciso partir para a estrutura de um ambiente agnóstico de hardware e um sistema operacional Openstack. Dessa forma, é possível criar novas ofertas e possibilidades de maneira dinâmica e de baixo custo. “O mercado caminha para um cenário open source, que tem uma velocidade de desenvolvimento muito rápida e baseada em comunidade”.
SDN/NFV: A chave para o 5G e IoT
Os milhões de dispositivos conectados à rede e os novos serviços 5G terão um grande impacto na infraestrutura das operadoras e empresas prestadoras de serviços. A implantação de tecnologias SDN/NFV será fundamental nessa jornada.
Para Hector Silva, CTO e líder de vendas estratégicas da Ciena para o Caribe e América Latina, as redes deverão ser nativas na nuvem e virtualizadas com SD-WAN baseada em SDN. “As plataformas digitais, IoT – Internet das coisas e o 5G estão sendo construídos de forma agregada e não concentrada, portanto, somente a virtualização permitirá assegurar a flexibilidade e a segurança adequada para a demanda de cada usuário”.
Segundo ele, os data centers serão orientados para operarem em nuvens híbridas e, nesse cenário, os small data centers, com mais eficiência e de menor custo, ganharão destaque, para alocar as funções da rede. Isso porque os data centers não irão concentrar apenas as funções de controle da rede, mas também os serviços da nuvem mais próxima. “A tendência é levar o processamento mais para borda da rede e, numa situação extrema, vamos ter um micro ou nano data center no armário de rua escoando o tráfego de banda larga”, pontua Silva.
Além disso, será preciso preparar as redes ópticas, que oferecerão escalabilidade e largura de banda de forma flexível e ágil. “Não existirá redes 5G se não tivermos estruturas SDN e virtualizadas para uma rede elástica e confiável”, completa.
Para a Ericsson, que se posiciona como uma integradora de tecnologias SDN/NFV, a mudança do modelo de operação e a segurança precisam ser considerados. “O mercado de telecomunicações estava acostumado a instalar uma caixa e a colocar no ponto da rede. Hoje, há mais em jogo. É preciso envolver desde o centro de operações até equipe de marketing que está criando novos serviços. É um processo de transformação, onde é necessário pensar e operar de uma maneira diferente”, comenta Paulo Bernardocki, CTO da Ericsson.
O executivo diz que um centro de operações se modifica muito rapidamente quando se está no ambiente virtualizado e a qualquer falha pode estar em vários elementos e, eventualmente, em diversos pontos da rede. “É importante ter um desenvolvimento contínuo e ininterrupto, em um processo open source. Junte a isso uma estratégia de Dev-Ops e a introdução e manutenção do ciclo de vida da rede existente. Não estamos mais vivendo num mundo onde fazemos um upgrade a cada um ano ou dois anos. Agora isso tem que ser feito todos os dias. A virtualização é um dos elementos-chave para os novos serviços e os passos que estão sendo dados hoje são pré-requisitos para 2020, quando o 5G estiver operando”.
Casos de uso
A TIM tem 49 funções de redes virtualizadas, o que corresponde a 50% do total de sua base instalada. Segundo, o diretor de rede móvel Marco Di Constanzo, o planejamento da operadora era de virtualizar 35% da rede até dezembro do ano passado. Mas, devido a necessidade de mercado, o processo ocorreu 40% mais rápido. A expectativa é chegar até 2020 com 70% da rede virtualizada.
Di Constanzo ainda destaca que a empresa possui quatro data centers que operam no conceito de NFV e SDN. “A TIM Brasil acredita que o SDN e NFV são tecnologias transformadoras e que irão gerar novas oportunidades de negócios e receitas. Essas tecnologias estão totalmente atreladas a mudanças de plataformas, pessoas e processos. Estamos avançando de uma maneira cuidadosa, sem pressa, mas também sem pausa”, completa.
Na Oi, o SDN e o NFV estão no roadmap de todas as suas novas ativações de rede. Mario Fukuda, diretor de tecnologia da operadora, comenta que a expansão da rede óptica é pensada para compor tecnologias que ofereçam interfaces para a virtualização de funções de rede e, para a infraestrutura legada, a ordem é readequar, como a planta IP que precisa ser simplificada. “É inegável que o SDN e a virtualização estão transformando as redes e os negócios e serviços das operadoras. Quem não seguir esse caminho não estará adaptado a nova realidade de serviços”.
Com avanços ocorrendo simultaneamente em todas as áreas de TI, surgem ainda mais novidades. A Orange Business Services oferece a Easy Go Network, uma solução baseada em rede como serviço (network as a service) com virtualização das funções de rede utilizando a tecnologia SDN, oferecendo mais agilidade na entrega de serviços. O Easy Go Network disponibiliza controle de aplicações unificadas, filtragem de conteúdo web, prevenção de spyware e defesa de malware, além de prevenção de intrusos, otimização de aplicações e gerenciamento de Wi-Fi.
Na opinião de Felipe Stutz, diretor de soluções para América Latina da Orange Business Services, o SDN/NFV traz benefícios para os clientes que buscam o conceito de rede como serviço como um habilitador para a transformação digital. “Essas tecnologias dão maior agilidade na entrega de serviços, com contratos sob demanda, e maior controle sobre a rede e segurança”. Até 2020, a companhia pretende ter 75% de serviços virtualizados e automatizados.
O SD-WAN também faz parte da estratégia da Orange Business Services e é uma das funcionalidades do portfólio de SDN/NFV da companhia. Segundo Stutz, a Orange já utiliza o SD-WAN dentro da sua rede há alguns anos, com visibilidade de aplicações e orquestração para agregar vários caminhos de rede Ethernet e MPLS, e tem aplicado novas tecnologias a essa funcionalidade. Em paralelo, a Orange tem outros lançamentos, ainda em fase piloto, como a virtualização dessas funções de rede dentro do escritório do cliente, numa tecnologia chamada Universal CPE, incluindo recursos de SD-WAN, roteamento e segurança, num único equipamento.