Tecnologias xGPON e XGS-PON ganham impulso com 5G
A estimativa é que, mundialmente, a quantidade embarcada de portas de próxima geração (XGS-PON inclusive) ultrapasse GPON em 2022, e dois anos mais tarde na América Latina e no Brasil
Verônica Couto, colaboradora da Infra News Telecom
As aplicações de alta capacidade e as redes móveis 5G do novo ciclo tecnológico, que exigem enlaces robustos, devem impulsionar a introdução de redes com tecnologias xGPON e XGS-PON, para transmissão de dados mais rápida e conectando mais clientes. “XGS-PON é uma das alternativas de aumento de velocidade para as redes PON e vem se confirmando como a mais predominante”, acredita Flávio Marques, gerente de engenharia de aplicações da Furukawa.
“Além de ser quatro vezes mais rápida que o GPON (10 Gbits versus 2,5 Gbits), a tecnologia tem transmissão simétrica – 10 Gbits da central para o assinante e vice-versa –, enquanto a GPON é 2,5 Gbits para o assinante e metade para a central.” Segundo o executivo, a expectativa é que, globalmente, a quantidade embarcada de portas de próxima geração (XGS-PON inclusive) ultrapasse GPON em 2022, e dois anos mais tarde na América Latina e no Brasil.
Na sua avaliação, a demanda por aumento de velocidade provocada por aplicativos está acontecendo em todos os tipos de rede, e também naquelas baseadas em tecnologia PON. “As redes nos data centers, de transporte e acesso sofrem da mesma forma o aumento de tráfego. O XGS-PON vem sendo considerado como opção para atendimento de redes corporativas na conectividade do também novo Wi-Fi 6, e pode ser uma opção para transporte dos sinais das redes 5G, desde que os limites de latência sejam controlados.”
Para Sergio Calado, diretor de novos negócios em fixed networks da Nokia Brasil, existem basicamente três tendências em curso, que fomentam a introdução do XGS-PON nas redes FTTH. A primeira é a chegada do 5G, que traz consigo a necessidade de backhaul em fibra óptica para carregar o tráfego gerado pelas novas redes móveis e a segunda é o aumento da banda requerida pelas empresas, que buscam ofertas corporativas em fibra óptica com banda simétrica garantida, possibilitando a adoção de aplicações em nuvem.
Já a terceira tendência é a adoção massiva de fibra e FTTH residencial no Brasil, que faz com que as redes ópticas estejam disponíveis na maioria das regiões. “Isso aumenta a possibilidade de que a demanda por serviços de backhaul ou corporativos esteja em uma área coberta pela rede FTTH. E essas demandas podem, assim, ser atendidas por meio do XGS-PON com um investimento mínimo.”
Considerada uma evolução do padrão xGPON, a tecnologia XGS-PON permite 10 Gbps de upstream e de downstream, conforme a norma de 2016 do ITU G.987.1. O XGS-PON é uma versão de maior largura de banda e simétrica do GPON, e permite a convivência dos recursos de ambas as tecnologias, destaca Cleverson Luiz Weiss, gerente de engenharia industrial da Fibracem, indústria brasileira especializada no setor de comunicação óptica. “Assim, os prestadores de serviços desejam escolher, para próxima tecnologia PON, uma tecnologia que funcione para todos os seus serviços baseados em PON (residencial, comercial, móvel) e forneça uma rede com alto desempenho.”
Na prática, diz Weiss, o aumento de capacidade de download e de upstream poderá ser percebido, principalmente, no tempo de resposta dos sistemas IoT – Internet das coisas em cidades inteligentes, entretenimento, realidade virtual, indústria 4.0, agronegócio, além de aplicações para controle de tráfego, semáforos inteligentes, etc. Todos esses contextos vão gerar e trocar grande volume de informação.
A maior capacidade permite oferecer serviços de backhaul para redes móveis (incluindo 5G), serviços corporativos de 1 Gbps simétrico garantido, ou mesmo serviços de até 10 Gbps simétricos, enfatiza Calado, da Nokia. “Isso tudo utilizando a mesma rede de fibra óptica que já está disponível hoje com serviços GPON residenciais”, afirma. “Além disso, a chegada do 5G traz o desafio de se aumentar a quantidade de sites móveis no Brasil, o que vai requerer formas mais econômicas de se carregar o tráfego móvel. O backhaul por meio da rede FTTH tem se mostrado a maneira mais econômica de facilitar essa densificação.”
Para o executivo da Nokia, “os provedores regionais estarão em situação privilegiada para oferecer esses serviços às operadoras 5G nas suas regiões de atuação, na medida em que suas redes FTTH possam evoluir para assimilar esse tráfego adicional utilizando o XGS-PON e futuramente o 25G-P.”
Para Marques, da Furukawa, a flexibilidade é chave no processo de investimento em mais fibras na rede. “Estamos trabalhando com um formato modular, flexível e de Capex controlado para que as redes de nossos clientes cresçam na medida que for necessário, atendam serviços diversos (corporativo, residencial, móvel, ponto a ponto e ponto-multiponto) e não tenham ociosidade. A falta de planejamento pode impactar profundamente no negócio de operadores e a sobreposição de redes tem que ser evitada ao máximo. Boa parte das novas redes tem que considerar o fator 5G como necessidade ou oportunidade de negócios, já que o espaço para cabeamento deve ser cada vez mais limitado.”
As velocidades dos provedores, diz ele, estão numa escalada competitiva muito agressiva e os pacotes de dados oferecidos aos assinantes já chegam a 300 ou 500 Mbps em várias regiões. “Onde as opções de provedores são maiores e os assinantes têm perfil de alto consumo – famílias com alta demanda de streaming, games e home office –, essa migração deve ocorrer mais rapidamente e será necessária a disponibilização do XGS-PON em até um ano e meio”, estima Marques, acrescentando que nas regiões onde a concorrência ou o grau de exigência dos assinantes é menor, esse tempo deve ir para até acima de três anos.
Na sua opinião, já os provedores que atendem clientes corporativos podem precisar disponibilizar essa tecnologia quase que imediatamente, pois as redes ponto a ponto para esses perfis de clientes podem ser muito onerosas. “As grandes operadoras devem precisar brevemente, caso possam usar o XGS-PON para o 5G.”
No ambiente corporativo (interno, PON-LAN), o perfil dos usuários também é o determinante, diz ele. “Esse ambiente usa muito Wi-Fi e tem exigido demais dessa tecnologia tanto em performance quanto em quantidade. Cada pessoa hoje pode ter três dispositivos sem fio conectados nas redes e o Wi-Fi 6 veio para atender esse usuário. Uma boa opção de conectividade para esse tipo de rede de alta performance é o XGS-PON.”
Weiss, da Fibracem, observa que as duas tecnologias (xGPON e XGS-PON) coexistem e os equipamentos de rede estão preparados para ambas, com base em padrões globais ou “elementos de coexistência” instalados diretamente nos switches ou roteadores existentes. Com isso, os provedores podem migrar gradualmente, de acordo com a necessidade de velocidade da aplicação, o perfil dos clientes e o ritmo do retorno financeiro do investimento. Lembrando, diz Weiss, que a tecnologia XGS é mais cara se comparada as soluções PON atuais.
No Brasil, a adoção de XG-PON e XGS-PON, na avaliação de Weiss, ainda é lenta, especialmente entre provedores de menor porte. Mas, no exterior, ele ressalta que o cenário já avançou e existe uma grande discussão se a próxima geração será 25G PON ou 50G PON.
A implantação deve observar um projeto concebido de acordo com o modelo de negócio da rede e incluir planejamento detalhado. “Insisto que a coexistência de GPON e XGS-PON deve sempre ser considerada e que uma rede multisserviços pode captar mais negócios no futuro”, defende Marques. “As redes são muito caras e o compartilhamento, otimização e trocas de tráfegos, infraestrutura e negócios devem ser a tônica no futuro. Um ISP com uma infraestrutura bem concebida poderia oferecer conectividade óptica para uma operadora 5G que reduziria o investimento inicial e colheria assinantes muito mais rápido por exemplo.”