Vantagens e desafios do outsourcing de TI
Cesar Poppi, executivo sênior de TI da TE Connectivity
O outsourcing de TI é um tema muito polêmico. Não tem como falar sobre algo que afeta diretamente as pessoas sem que alguns concordem e outros discordem completamente. Com 24 anos de experiência no mercado de TI, já passei por muitas transformações e uma delas foi o momento da minha própria terceirização quando ainda era um analista de sistemas. Mais recentemente, já em um cargo de liderança, passei pela experiência contrária: ter que terceirizar o meu time por uma decisão global.
Não existe uma receita do que fazer e o que é certo ou errado. O mais importante é a história de cada indivíduo envolvido, a visão de cada gestor de TI e a situação de cada empresa.
Há muitas maneiras de se decidir por terceirizar o time de TI e o que exatamente terceirizar. Uma delas é a redução de custos e talvez a mais comum. Uma grande empresa costuma ter bons benefícios para os seus funcionários e isso tem um custo alto. Incorporá-los em operações que não são “core” é certamente a primeira preocupação de um gestor de negócios ou financeiro. Portanto, simplesmente contratar um parceiro de TI, com custos menores, para cuidar de suas operações de tecnologia pode fazer todo sentido, quando avaliado somente pelo lado do custo.
Uma outra forma de olhar para a terceirização é buscar o “know-how” que não é possível ter internamente e contratar uma empresa especializada neste determinado tema. Por exemplo, para uma grande empresa de logística, onde a TI é uma ferramenta de trabalho (apesar de ter uma alta dependência deste serviço), contratar uma operação pronta para o armazenamento dos sistemas, dados e infraestrutura pode ser certamente uma boa opção, por não precisar investir em todos os equipamentos e melhores práticas para ter uma operação similar dentro da empresa e contar com mão de obra especializada e de alto custo.
Uma outra modalidade interessante de outsourcing é o “as a service”. Neste modelo, uma determinada tecnologia de TI é vendida como uma mensalidade e gerenciada totalmente por uma empresa externa de TI e oferecida por meio de acesso na nuvem. Outro bom exemplo onde a terceirização faz todo sentido e fecha a conta.
Com muitas startups no mercado, hoje é possível encontrar empresas com soluções altamente tecnológicas e interessantes que podem agregar algo de bom para os negócios. Essas empresas, certamente, podem entregar muito mais do que ter um departamento de TI pesado, que tenta inovar e construir soluções no mesmo nível. Porém, a pergunta que fica é como integrar essas novas tecnologias e soluções na realidade das empresas que já trabalham com operações complexas e sistemas legados? Ainda mais importante do que isso, como integrar os processos de negócio nas novas tecnologias? Por isso, existem os especialistas em arquitetura de sistemas, analistas de sistemas que conhecem tanto o processo quanto a solução tecnológica, os gestores de projeto para planejar os projetos e, claro, a figura da liderança de TI, que é fundamental para que as decisões certas sejam tomadas e as automações e transformações ocorram como esperado.
Mas, nem tudo são flores. Só quem já passou na pele por uma terceirização pode explicar a sensação de perder o seu emprego para uma empresa que promete fazer tudo ainda melhor, com profissionais claramente menos qualificados e experientes, caso contrário não seria mais barato.
Muitos vendem a terceirização de TI como uma possibilidade de ganho de performance, com técnicas e procedimentos mirabolantes, que prometem entregar resultados ainda melhores que os praticados pelo time interno. Sinceramente? Mágica ainda não faz parte do portfólio das empresas de TI. Certamente, essa equação não fecha.
O tripé é sempre custo, qualidade e prazo. Se desequilibrar alguma dessas pernas pode ter certeza que não ficará balanceado. Transformar um departamento de TI, que tem qualidades e principalmente domínio das operações e processos de negócio, em algo descartável e, supostamente, de fácil transferência de conhecimento é onde muitas empresas pecam.
Em um mundo cada vez mais digital, na era da 4ª. Revolução industrial, não é possível fazer tudo com somente a visão e conhecimento técnico. O time de TI precisa ser especializado no negócio para que a estruturação do plano de digitalização seja correto. A execução pode até ser terceirizada, desde que a visão e o plano sejam feitos e gerenciados pelos especialistas de TI e de negócio.
Terceirizar por completo é assumir riscos sem na verdade conhecê-los. Quanto mais você deixar as pessoas que conhecem a empresa no time interno de TI e terceirizar processos como help desk, programação, redes e data center, mais efetivo e valioso será o seu time de TI. Não é possível falar em transformação digital sem uma TI forte. Uma consultoria de TI sozinha não será a solução.
É indiscutível que existem ótimas empresas de TI no mercado. Por outro lado, cada empresa tem a sua realidade e sabe onde o calo aperta. O equilíbrio é sempre a melhor opção nessa equação e o time de TI precisa ser peça valiosa em todas as organizações e não somente avaliado friamente com uma linha de custo no orçamento.
Diversos estudos mostram que as empresas que não se tornarem digitais tendem a sumir. As empresas, certamente, vão sumir se não entenderem o valor da TI para o negócio.
É executivo sênior de TI na TE Connectivity desde 2010. É responsável pelas área de aplicações na região Américas. Formado em processamento de dados pelo Mackenzie, o executivo possui ainda especialização em gestão de projetos e SAP. São 24 anos de experiência no mercado de TI com passagem por empresas como Grupo Accor, Ericsson, Voith, Folha de São Paulo, Unisys e Citibank.