Você realmente sabe quem é?
Edgar Amorim, Analista comportamental e coach
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Quando fui convidado para escrever para a Infra News Telecom, o tema proposto era relacionado a redes de computadores, comunicação de dados, SDN e tecnologias afins. Após ouvir a descrição do projeto e considerando que estou atuando em uma nova área (comportamento e desenvolvimento de pessoas), sugeri que fosse criada uma sessão para tratar de um aspecto muito importante da vida profissional: o desenvolvimento pessoal, ou o soft skills, como se diz em inglês. Soft skills são as habilidades e competências comportamentais, de comunicação, relacionamento e inteligência emocional.
Você, possivelmente, um profissional de TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação, pode estar pensando: “o que é que isso tem a ver comigo?”. A resposta é bem simples: “TUDO!”. Segundo pesquisas das Universidades norte-americanas de Harvard e Stanford e da Fundação Carnegie, uma carreira de sucesso é motivada por apenas 15% de competências técnicas – os outros 85% estão relacionados a habilidades interpessoais (comunicação, relacionamento, etc). Apesar disso, todos os esforços e recursos financeiros são empregados no desenvolvimento de competências técnicas. Dessa forma, a ideia aqui é trazer à luz o conhecimento relacionado ao desenvolvimento dos 85% ligados a competências interpessoais.
Então vamos iniciar nossa caminhada falando um pouco sobre cada um de nós. Você realmente sabe quem é? Você acredita que tudo o que é, realmente, veio de suas próprias de decisões?
Vamos refletir um pouco. Antes de você nascer, seu nome já tida sido escolhido. Muito provavelmente já havia um quarto prontinho a sua espera. Suas roupas também não eram escolhas suas. Já recebia carinho e afeto e iniciava a sua relação com os sons, que muitas vezes lhe agradava e complementava o aconchego na barriga da sua mãe, mas não era uma escolha sua.
Depois de nascer, o processo de formação da identidade da criança passa, como mostra Piaget, por observar, copiar, admirar e repetir. Isto significa que a criança não aprende com “ordens” ou conversas, mas sim com exemplos. A criança vai ser o que as pessoas ao seu redor são e praticam. Mesmo quando adultos continuamos a copiar e imitar o que está ao nosso redor. Isso acontece porque o ser humano é um ser social e para se sentir pertencente a um grupo que admira, ele copia os hábitos desse grupo – e isso é muito mais intenso na criança.
Como o crescimento, a criança vai adotando os valores, necessidades e crenças dos indivíduos que estão ao seu redor e quando adulto vai agir de acordo com eles. Então volto a pergunta inicial, será que sabemos realmente quem somos, já que o que somos veio de outras pessoas?
A primeira iniciativa para um desenvolvimento pessoal, para um melhor desempenho na carreira profissional, é tomar posse de que muita coisa do que fazemos é simplesmente cópia do comportamento de pessoas que observamos quando criança, porém tudo isso está em nosso inconsciente e não percebemos. É na infância, por volta dos sete ou oito anos de idade, que o caráter do indivíduo é formado. Nessa faixa de idade, o indivíduo fixa os valores, crenças e necessidades que levará para a vida toda, conforme citado anteriormente. Porém, tudo isso fica em nosso inconsciente, que ainda contém nossos receios, emoções, competências, angustias, dúvidas, traumas, etc.
Em contraponto ao inconsciente, temos o consciente, que é onde temos percepção e controle. O consciente se manifesta em nossos comportamentos observáveis e são neles que podemos iniciar uma tomada de consciência para melhorar nossas competências interpessoais.
Com tanta informação que nossa mente tem que lidar, ela acaba trabalhando no que chamo de “modo automático”, conhecido como “zona de conforto”. Esse “modo automático” economiza energia e nos torna mais competentes. No entanto, o mundo ao nosso redor muda constantemente e muitas vezes continuar agindo da mesma maneira, no “modo automático”, pode não trazer os mesmos resultados, como anteriormente. Aí o jeito é mudar o “automático”.
A chave essencial para contribuir para essa mudança está na motivação e somente uma pessoa pode motivar alguém: ela mesma. Um exemplo bem simples que ilustra o que foi dito até aqui é o processo para tirar a carteira de habilitação. Dá um trabalho enorme, mas o indivíduo está muito motivado para dirigir sozinho, então ele enfrenta “muito trabalho” no aprendizado de dirigir.
Essa é a nossa mente extraordinária. Em vez de deixá-la nos controlar, vamos tomar posse dela e direcioná-la para nos ajudar hoje e sempre. Mas como fazer isso? Tomando posse do que está no seu inconsciente, utilizando uma ou várias técnicas ou ferramentas disponíveis para tal. Podemos começar por entender como nos comportamos no dia a dia e como isso influência as nossas relações no trabalho e no pessoal. Conhecer o comportamento natural das pessoas permite direcionar as energias do indivíduo para as mudanças que se façam necessárias. Esse tema será conteúdo da próxima edição.
Nossa mente é moldável e quando tomamos consciência disso, percebemos que podemos trabalhar para moldá-la para termos os melhores resultados em várias situações. A PNL – Programação Neuro Linguística mostra que um novo hábito ou uma nova habilidade passa a fazer parte do nosso repertório do “modo automático” após 21 dias de repetição.
Dessa forma, quando se fala em melhoria de desempenho profissional, o primeiro passo é tomar posse de qual questão deve ser trabalhada (talvez a parte mais difícil do processo), em seguida, é preciso definir um plano de ação e colocá-lo em prática e, finalmente, fazer os ajustes necessários. Para seguir esse roteiro existem vários recursos de apoio. Pretendemos nesta sessão apresentar alguns deles, propor reflexões e sugerir caminhos.
É instrutor certificado Everything DiSC®️ formado pela Wiley Publishing, nos EUA, Coach Executivo e analista comportamental pela Sociedade Latino Americana de Coaching, associada da International Association of Coaching (IAC). Pós-graduado em sócio-psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Administração de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia e engenheiro eletrônico pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Tem mais de 40 anos de experiência em organizações de vários portes, incluindo multinacionais, onde assumiu funções de operações e executivas.
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