Web 3.0: O que muda com a nova web dos dados?
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage no Brasil
A chegada do metaverso, NFT, IA, blockchain e outras tecnologias estão transformando a Internet como a conhecemos, e os líderes precisam estar prontos para lidar com essa nova onda tecnológica que segue nos trazendo uma jornada tecnológica incrível.
A Web 2.0 foi impulsionada por smartphones, Internet móvel, e-commerce, “gig economy” (ou economia compartilhada) e o crescimento das redes sociais. Foi disruptiva na forma como criou modelos de negócios, tipos de dados, e um perfil de cliente sempre ligado e conectado. A nova Web 3.0 é igualmente disruptiva, mas grande parte dessa transformação está acontecendo nos bastidores, com o trabalho brilhante de desenvolvedores, plataformas descentralizadas e projetos comunitários de propriedade dos usuários. A dinâmica de poder da Web 2.0 ao qual estamos acostumados agora está mudando e colocando os dados de volta nas mãos dos seus proprietários.
Para ilustrar essa evolução, acho interessante compartilhar uma citação de Lew Daniels, especialista em TI. Ele diz que “a Web 1.0 é uma única pessoa que edita um documento, a Web 2.0 é um grupo de pessoas que edita um documento, e a Web 3.0 é um grupo de pessoas que cria bits de dados fora dos documentos”.
E mesmo que algumas tecnologias da Web 3.0 ainda sejam desconhecidas, e com suas barreiras e complexidades, as inovações são inerentemente centradas no ser humano. São destinadas a dar aos indivíduos mais transparência, acessibilidade, autonomia e controle sobre seus dados e suas vidas digitais. Isto significa que as empresas que adotam estas tecnologias, sejam modelos existentes ou totalmente novos, entregarão esse mesmo valor aos seus clientes.
O stack tecnológico da Web 3.0
As tecnologias Web 3.0 estão redesenhando do zero os caminhos da web, incluindo muitas infraestruturas de aplicação e processos com décadas de existência. A ênfase está na velocidade, facilidade, transparência e responsabilidade. A partir de agora, isto inclui:
Blockchain
Descentralização é o nome do jogo, com redes P2P fornecendo cópias distribuídas de registros, em vez de um proprietário central. Em muitos casos o blockchain pode remover barreiras, pontos únicos de falha, de fraude e de frustração, mas a tecnologia blockchain por si só não garante a imutabilidade ou descentralização. O resto da pilha em cima dela pode fortalecer ou anular suas propriedades principais, como o armazenamento habilitado para blockchain versus o armazenamento centralizado de dados.
Aplicações descentralizadas
Aqui está o blockchain em ação, e onde os efeitos de ondulação dos benefícios mencionados acima começam a transformar indústrias, os processos e transações. Os grandes impulsionadores a partir de agora incluem aplicações financeiras descentralizadas (DeFi), livros contábeis distribuídos, contratos inteligentes e cadeias de suprimento para rastrear o câmbio de ativos, moedas, remessas e muito mais.
Projetos de blockchain open source estão impulsionando a rápida adoção nesse caso, com protocolos de nível empresarial com recursos incorporados, como oracles e APIs, para dar vida às implementações no mundo real.
Criptomoedas
Crypto é a moeda da Web 3.0, alavancando os benefícios do blockchain para transformar a forma como transferimos fundos, fazemos compras, investimos, economizamos e muito mais em mercados descentralizados e plataformas de negociação, como a Voyager. Na verdade, não há criptomoeda sem o blockchain. Ela serve como um livro fiscal para cada transação. Como qualquer ativo, a criptografia está sujeita a roubo e perda, mas as primeiras histórias de sucesso demonstram seu potencial.
Como o resto da Web 3.0, a criptomoeda é movida por dados, o que explica por que é mais provável que seja armazenada em um thumb drive do que em um cofre. Quando aproveitada pelas características que compartilha com a imutabilidade do blockchain, acessibilidade, transparência e imediatismo, ela pode ser um antídoto para questões antigas como taxas, intermediários, atrasos, fraudes e muito mais.
Tokens e NFTs
Os criptoativos (ou crypto tokens) são basicamente pedaços de metadados com valor monetário, criados em blockchain. E, embora um token seja uma forma de criptomoeda, há mais do que apenas valor monetário.
Um NFT é também um símbolo, muitas vezes envolto em um bem digital, como arte ou música. Mas as imagens são apenas a superfície. Os NFTs são frequentemente usados como participações acionárias para levantar fundos para projetos. Por exemplo, um projeto “cunhará” sua própria ficha como moeda nativa, que pode então ser alavancada, apostada ou negociada em mercados descentralizados, não muito diferente das ações tradicionais. Outro exemplo mais palpável é um tênis de edição limitada como os novos CryptoKicks NFTs da Nike.
Os tokens podem ser como bilhetes VIP da vida real, permitindo que os usuários ganhem prêmios, direitos de governança para votar e tomar decisões em um projeto, ou tenham acesso “atrás do paywall”, por exemplo a um evento ou em um bate-papo no Discord. Embora o valor possa ser volátil, os primeiros projetos são exemplos impressionantes de quanto investimento, patrimônio e riqueza podem ser influenciados pela Web 3.0.
Dados e metadados não estruturados e imutáveis
Como relata o já citado Lew Daniels, “A Web 3.0 foi descrita como a ‘data web'”, e os dados da Web 3.0 também não serão estruturados. Serão em grande parte dados não estruturados como NFTs, dados de IoT, interações sociais, vídeo, e muito mais. E, se forem criados em blockchain, que é imutável por natureza, esses dados nunca serão apagados.
Metadados é onde a Web 3.0 realmente se distingue. É dinâmica, interoperável e matizada. Daniels explica que “a Web 3.0 é sobre dados que são conectados e capazes de serem remontados sob demanda. Esta remontagem de dados, a reorganização de peças, é um elemento central crucial da Web 3.0″.
Se metadados e dados não estruturados são a força vital das aplicações modernas, as empresas precisam estar prontas para armazená-los, consolidá-los e descomplicá-los para aproveitar seu potencial. Para aplicações baseadas em blockchains, isso significa repensar como elas são armazenadas – porque provavelmente não estarão propriamente em blockchain.
Inteligência artificial
Pense em toda a trajetória da IA e aonde ela chegou até agora. Não é mais futurista, é uma prático e uma espinha dorsal dos negócios digitais – principalmente no caminho da automação, aumentando as capacidades humanas e criando mecanismos de busca mais inteligentes. Também requer uma grande quantidade de dados, exigindo um volume altamente expressivo para modernizar a infraestrutura apenas para executar com ROI.
Se a Web 3.0 for construída sobre dados conectados, a IA será a chave para conduzir essas conexões. O processamento de linguagem natural, que traduz texto humano semântico em dados estruturados, irá melhorar na Web 3.0 a interatividade das aplicações pioneiras da Web 2.0. O machine learning permitirá que os computadores produzam resultados mais rápidos e relevantes como os criados pelo supercomputador da Universidade de Nanjing.
Olá, metaverso!
O metaverso abre um espaço inteiramente novo para mostrar a arte digital como os NFTs. Em seu local do metaverso, será comum exibir NFTs que você possui da mesma forma que você compartilharia a arte na vida real. Mas, as experiências de realidade aumentada (XR) também serão um grande negócio para os marqueteiros. O metaverso e seu potencial de monetização ecoam próximo à indústria de bilhões de dólares dos jogos online modernos. Basta olhar para as “skins” dos videogames e os bilhões de receitas geradas com a compra de novas roupas e ferramentas para personagens virtuais. Empresas como Nike e Coca-Cola estão fazendo o mesmo com os NFTs à medida que o metaverso se expande.
Prepare-se para abraçar a Web 3.0
A Web 3.0 evoluirá em aplicações de dados e de consumo de dados. O blockchain e a inteligência artificial exigirão novas habilidades e investimentos em TI, da mesma forma que tokens e marketplaces exigem a adoção de carteiras e moedas. Tudo isso exigirá atenção cuidadosa com a criptografia e o gerenciamento de chaves. Tentar adotar tecnologias Web 3.0 em infraestruturas legadas, além de complexo, coloca todo o propósito da inovação em risco. Por isso, os líderes precisam estar preparados para receber e aproveitar todo o potencial da Web 3.0 com o apoio das infraestruturas modernas capazes de suportá-la.
Paulo de Godoy tem 20 anos de experiência no mercado de TI, com foco em vendas de soluções para empresas de armazenamento, segurança, integração e interconectividade. O executivo ocupou cargos de liderança em empresas de destaque no setor tecnológico, como Hitachi, IBM e NetApp. Paulo iniciou as atividades na Pure Storage como gerente de vendas em 2014, e em 2016 assumiu a gerência geral da companhia no Brasil.