Wi-Fi 6: Como o novo padrão pode gerar mais receitas para os ISPs
Em menos de cinco anos, os usuários terão cerca de 50 dispositivos conectados à rede domiciliar. E essa realidade poderá ser plenamente atendida pelo Wi-Fi 6. Neste cenário, a tecnologia se mostra uma excelente oportunidade para melhorar o serviço prestado pelos provedores de Internet.
Redação, Infra News Telecom
A mais recente geração de rede de acesso sem fio, o Wi-Fi 6 (IEEE 802.11ax), promete melhorias significativas em comparação ao padrão anterior (IEEE 802.11ac), ao apresentar uma taxa de transmissão de dados para cada usuário único 37% mais veloz do que o Wi-Fi 5 e capacidade de transferência quatro vezes maior em ambientes densos, como aeroportos, shoppings, eventos e campos de futebol. Além de maior desempenho em locais com muitos dispositivos, a tecnologia tem melhor alcance através de paredes e o consumo de energia é reduzido, o que deve se traduzir em um aumento na vida útil das baterias dos aparelhos.
Segundo o Prof. e Dr. Edelberto Franco Silva, da Universidade Federal de Juiz de Fora, de Minas Gerais, com o crescimento da IoT – Internet das coisas, estima-se que, em menos de cinco anos, os usuários tenham por volta de 50 dispositivos conectados à rede domiciliar, dentre assistentes pessoais, smartphones, smartTVs e outros equipamentos inteligentes. E essa realidade poderá ser plenamente atendida pelo Wi-Fi 6 e com melhor conectividade. “Neste cenário, a tecnologia se mostra uma excelente oportunidade para melhorar o serviço prestado pelos provedores de Internet em geral”, diz.
Tecnicamente, como explica o professor, o Wi-Fi 6 usa modulação 1024-QAM e configuração de canal MU-MIMO (MIMO para múltiplos usuários), além de OFDMA, considerado um grande avanço em relação à geração anterior.
Apesar de manter a largura de banda do canal de 20/40 MHz, nas frequências de 2.4 GHz e 80+80 MHz, e 160 MHz, em 5 GHz, o que não é tão diferente da geração 5, o Wi-Fi 6 otimiza o uso do espectro e utiliza um espaçamento da subportadora de aproximadamente 78 kHz, bem inferior aos 312.5 kHz do IEEE 802.11ac, o que auxilia no crescimento da taxa de dados. “Todos os aspectos incorporados na nova geração melhoram a concorrência do canal e a qualidade do sinal, mesmo com vários usuários simultâneos”, diz Silva.
De acordo com ele, o Wi-Fi 6 terá capacidade de atender a mais usuários, com banda muito superior e redução do consumo energético dos dispositivos finais, com velocidades entre 1.2 Gbps por fluxo a 4.8 Gbps por quad-fluxos simultâneos (existem resultados teóricos de até 9.6 Gbps com mais fluxos simultâneos). Há ainda um esforço para que o Wi-Fi 6 também suporte a faixa de 6 GHz, o que está sendo chamado de Wi-Fi 6E.
Jonas Trunk, diretor presidente da Linktel, operadora que oferece serviços de conexão sem fio a diversas regiões do país, ainda acrescenta que o padrão provê maior estabilidade na banda dos centenas de usuários que deverão se conectar por AP – ponto de acesso. “Um projeto com Wi-Fi 6 utiliza menos pontos de acesso, mas o sistema garante mais de 1 G por device, especialmente os mais modernos. As frequências atuais de Wi-Fi serão as que mais se solidificarão, dado ao custo e às plantas de celulares no Brasil”.
O Wi-Fi 6 pode ter um impacto muito positivo na percepção dos consumidores sobre a qualidade dos serviços prestados pelos provedores, uma vez que é comum os atuais equipamentos não acompanharem a velocidade de transmissão de dados, mesmo com banda larga superior a 100 Mbps. Mas o padrão Wi-Fi 5 ainda atende às necessidades atuais de muitas empresas.
A MHNet Telecom, por exemplo, fornece soluções de gestão de acesso Wi-Fi, aderentes à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados, e comercializa roteadores com Wi-Fi 5. Está nos planos da empresa disponibilizar serviços de Wi-Fi com cobertura outdoor e locais de grande circulação, para ampliar e complementar os serviços de banda larga fixa e móvel 4G já fornecidos.
Para o diretor de novos negócios da MHNet, Lairto dos Santos, o Wi-Fi 6 será importante na oferta de serviços com velocidades de até 1 Gbps, prevista pela MHNet. Hoje, a empresa oferece planos de até 300 Mbps. “Estamos estudando várias alternativas de utilização do padrão para complementar a cobertura de banda larga, fixa ou móvel”.
Com a tendência de aumento do número de dispositivos conectados e diante da relevância que a mobilidade vem tomando, a consolidação da tecnologia é questão de tempo. Um ponto ainda em discussão é a utilização do WI-Fi 6 para complementar o escoamento do tráfego off-load.
Existem estudos que indicam que essa proposta é tecnicamente viável, mas pode não ser tão vantajosa no aspecto comercial, segundo Silva. “Acredito que o que mais vai determinar o uso do Wi-Fi nesse propósito são as parcerias entre as empresas de telecom maiores e as PPPs”.
Na avaliação de Trunk, da Linktel, o escoamento do tráfego off-load será mais beneficiado pelo Wi-Fi 6E, dada a capacidade de banda disponível, de 2,5 e 5 Giga inicialmente, o que, num primeiro momento, deverá ocorrer em ambientes fechados e de forma mais rápida do que a introdução do 5G, tendo em vista o custo mais baixo.
No entendimento de Santos, a participação do Wi-Fi no escoamento do tráfego off-load irá aumentar, o que será fundamental para o sucesso do 5G, evitando a saturação da rede no suporte a um elevado número de usuários simultâneos.
Os benefícios da nova geração de Wi-Fi são evidentes, mas não garantem sua adoção imediata, não só por ainda precisar de tempo para a homologação de dispositivos e para a viabilização da infraestrutura, como pelos custos que ainda são altos, mas que devem cair com a popularização e massificação do uso e o ganho em escala.
Trunk chama a atenção para o fato de que um ponto de acesso Wi-Fi 6 simples custa cerca de 35% a mais do que um ponto de acesso carrier carrier. Em geral, os preços estão diretamente ligados aos benefícios alcançados, o que demonstra ser necessário identificar os usos mais indicados e beneficiados pela tecnologia. “O preço de um AP Wi-Fi 6 com diversas vantagens tecnológicas é o dobro de um carrier carrier”.
É certo que o Wi-Fi 6 é uma das tecnologias mais promissoras para atender à crescente demanda, mas não é a única. “As empresas que almejarem posição de destaque no futuro terão que fazer uso das mais diversas tecnologias de acesso, combinando fibra óptica em conexões de Gigabit, 5G e Wi-Fi 6, uma vez que se complementam e ampliam a experiência do usuário com vídeos de qualidade 4 k ou 8 k, games, cada vez mais realistas, e Internet das coisas com zero latência”, avalia Santos.
Trunk vê com bons olhos a chegada do padrão para competir com a oferta de banda por usuário e para roaming/off-load também com 5G. Para ele, o fato de o Wi-Fi 6E ainda depender de regulamentação da Anatel pode atrasar sua implementação.
O Wi-Fi 6 chega com o início da operação do 5G, cujo leilão deverá ocorrer em 2021, e ainda que tais tecnologias pareçam concorrentes, ambas primam pela qualidade de transmissão e serão importantes para o aumento da capacidade de rede e a expansão do atendimento; a primeira em ambientes indoor, como casas, estádios, aeroportos, e a segunda em aplicações outdoor, como automóveis e drones.